Quando intubar?
- Max Alves
- há 6 dias
- 3 min de leitura
Quando decidir pela intubação?
Uma abordagem prática baseada em três perguntas fundamentais
Introdução
O primeiro passo em qualquer atendimento de ressuscitação é verificar ou estabelecer uma via aérea pérvia e protegida. A única exceção a esse princípio é a desfibrilação em emergências cardíacas. Sem oxigenação adequada, todas as demais manobras de suporte à vida falham.
Na maioria das situações de instabilidade clínica, a proteção definitiva da via aérea é realizada por meio da intubação orotraqueal com tubo endotraqueal cuffado. No entanto, decidir quando intubar nem sempre é simples, especialmente em cenários intermediários, nos quais o paciente não está claramente estável nem francamente em colapso.
Este texto apresenta uma ferramenta simples e prática, aplicável a praticamente todos os pacientes de emergência, independentemente da idade ou do diagnóstico: a avaliação em três perguntas.
O desafio da decisão de intubar
A intubação traqueal em ambiente de emergência frequentemente ocorre sob alto estresse, com tempo limitado e risco elevado. Para executá-la de forma segura, o médico precisa dominar:
Técnicas de intubação
Identificação de via aérea difícil
Escolha adequada de fármacos
Manejo da via aérea difícil ou falha
Falhas em qualquer um desses pontos aumentam a morbimortalidade.
Entretanto, postergar indevidamente a intubação também é uma causa importante de desfechos ruins.
👉 Atrasos inadequados podem transformar uma intubação potencialmente controlada em uma situação caótica, sem preparo adequado.
Exemplos clássicos de erro por atraso:
Esperar estridor em paciente com anafilaxia
Aguardar piora da rouquidão em inalação de fumaça
Subestimar fadiga respiratória progressiva
Quando a decisão é óbvia… e quando não é
Existem cenários extremos em que a decisão é clara:
✔ Intubação imediata
Paciente com TCE grave e rebaixamento do nível de consciência
✔ Intubação pode ser evitada inicialmente
Insuficiência cardíaca aguda leve, com melhora rápida após nitrato e VNI
Entre esses extremos, existe uma ampla zona cinzenta, na qual o médico deve considerar:
Estado respiratório atual
Doença de base e risco de deterioração
Idade e comorbidades
Necessidade de transporte inter-hospitalar
Recursos disponíveis
Importante: vontade do paciente
Sempre que possível, especialmente em pacientes com doenças terminais, deve-se investigar:
Desejo explícito do paciente
Diretivas antecipadas de vontade
Ordens de não reanimação (DNR)
A decisão técnica não pode ser dissociada da autonomia do paciente.
A ferramenta prática: as 3 perguntas que decidem a intubação
Em situações em que a necessidade de uma via aérea definitiva não é imediatamente clara, uma avaliação simples com três perguntas ajuda a guiar a conduta.
👉 Resposta “SIM” a qualquer uma delas indica necessidade de intubação na maioria dos cenários de emergência.
1️⃣ A patência ou a proteção da via aérea está em risco?
Avalie:
Rebaixamento do nível de consciência
Incapacidade de proteger a via aérea
Risco de aspiração
Edema, trauma, sangramento ou obstrução
📌 Se o paciente não protege a própria via aérea, a intubação é indicada.
2️⃣ A oxigenação ou a ventilação estão falhando?
Avalie:
Hipoxemia refratária ao O₂ suplementar
Hipercapnia progressiva
Sinais de fadiga respiratória
Uso de musculatura acessória, taquipneia extrema ou apneia iminente
📌 Falência ventilatória ou oxigenatória é indicação clara de via aérea definitiva.
3️⃣ Existe previsão de que a intubação será necessária?
Pergunte-se:
O quadro tende a piorar?
Haverá necessidade de sedação, transporte ou procedimento invasivo?
O paciente está em risco de deterioração súbita?
📌 Intubar antes da catástrofe é mais seguro do que correr atrás da emergência instalada.
Conclusão
A decisão de intubar não deve ser tardia nem precipitada, mas sim estratégica.
A aplicação sistemática dessas três perguntas permite ao médico:
Reduzir atrasos perigosos
Evitar intubações desnecessárias
Planejar a via aérea de forma segura e controlada
🎯 Via aérea bem decidida é via aérea bem manejada.

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